E OS ESCÂNDALOS DE CORRUPÇÃO NÃO PARAM

0
631

Eugênio Ricas é Delegado Federal, Adido da PF nos EUA, Mestre em Gestão Pública pela UFES

​Na semana em que o Brasil alcança a lamentável marca de quase 5 milhões de pessoas contaminadas e mais de 143 mil mortos pela Covid-19, escândalos de corrupção continuam a chocar a maior parte dos brasileiros. 

​No dia 29/09, por exemplo, a PF deflagrou a Operação SOS que buscou desarticular uma organização criminosa acusada de se apropriar de recursos que deveriam ser aplicados no combate à pandemia, no Estado do Pará. As suspeitas não pouparam nem mesmo o governador do estado que viu mandados de busca e apreensão serem cumpridos na sua residência e em seu gabinete, no Palácio dos Despachos. A operação ainda prendeu o ex-chefe da Casa Civil, o Secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, o Secretário de Estado de Transportes e o assessor de gabinete do Governador.

​ De acordo com as investigações, os supostos desvios de recursos públicos no Pará ultrapassam a marca de 1.2 bilhão de reais. Para se ter uma ideia da ousadia e certeza de impunidade dos criminosos, em um dos locais investigados a PF encontrou, dentro de uma caixa térmica, o montante de 750 mil reais em dinheiro vivo.

​Em outra investigação, conexa com a Operação SOS, batizada Raio X, mandados de busca e apreensão foram cumpridos em salas da Câmara de Vereadores de São Paulo, bem como na Secretaria de Saúde do Estado.  

​Algumas semanas antes todos nós acompanhamos, atônitos, os escândalos no Rio de Janeiro, que acabaram culminando com o afastamento do governador que, agora, enfrenta um processo de impeachment. O nome da operação Tris in Idem fez referência ao fato de que o atual governador é o terceiro a operar esquemas semelhantes, seguindo, portanto, os passos dos ex-governadores Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, já processados e condenados criminalmente.

​As investigações no RJ indicam que um intricado esquema foi montado pelo próprio governador, que cobrava propina para a contratação emergencial e para liberação de pagamento a organizações sociais que atuavam nas áreas da saúde e educação. Além disso, a organização criminosa criada para sangrar os cofres públicos cariocas utilizaram o escritório de advocacia da esposa de Witzel, para simular contratos e receber valores indevidos.

​Exemplos como esses podem ser encontrados de norte a sul do Brasil. Criminosos inescrupulosos têm, reiteradamente, desviado recursos que deveriam servir à sociedade brasileiraneste momento de crise sem precedentes. 

​Se, todavia, podemos apontar uma coisa boa nesse mar de lama que assola nosso país é o funcionamento de órgãos que têm como missão detectar e reprimir tais desvios. Partindo da premissa de que os órgãos de controle devem atuar sobre três pilares fundamentais (prevenção, detecção e correção) os reiterados escândalos têm demonstrado que a corrupção em nosso país tem sido detectada e eficientemente combatida. Punições exemplares, que desestimulem novas práticas como essas são, agora, fundamentais para que nos pós crise não vejamos essas histórias se repetirem com tanta frequência.